20 abril 2008

hugging

ugging (apenas um mote)

A realidade tem múltiplas interpretações e inúmeras representações (é um lugar comum, esta afirmação, paciência. Poderíamos enveredar por mil e um caminhos a partir daqui, mas apenas um me interessa hoje). Vem isto aqui a propósito de uma aguarela de Picasso que terá atingido por estes dias, um valor astronomicamente absurdo:

Etreinte, Picasso, 1901

Foi aí que me lembrei de outras pinturas que, embora representando momentos parecidos (repito, parecidos, não vá uma leitura superficial pensar que não reparei no género dos personagens), o presentam de modo substancialmente diferente. Estas quatro imagens, separadas por poucos anos, têm características plasticamente opostas e por isso inseriram-se em distintos movimentos artísticos.

Etreinte, Egon Schiele, 1917
Mas isso só no modo como o pincel nos deu a ver a realidade; porque, parafraseando René Huyges, e apresentando agora como exemplo as seguintes duas visões dum momento, entre uma e outra, "nada mudou, salvo o essencial, esse imponderável que o artista põe atrás das coisas".
Le sommeil, Gustave Courbet, 1866

Le sommeil d'apres Courbet, Bernard Dubbufet, 1955

A propósito de Courbet, apetece-me este à parte: este pintor realista do século dezanove que escandalizou a época essencialmente porque os seus modelos eram comuns trabalhadores, foi pelo arrojo do erotismo de algumas obras que se tornou recentemente alvo de atenção, incomodando de novo, no século vinte e um, por ter sido exposta a sua fase mais oculta. O museu (Petit Palais, Paris) que acolhe a pintura acima terá sido até incluído no roteiro lésbico da cultura parisiense.


Nota jaNota: (como é óbvio) só eu sei o difícil que foi ilustrar este post. Teria sido mais fácil fotografar as imagens dos livros, porque afinal, é verdade que a internet tem quase tudo mas nem tudo está tão perto como parece e chegar lá não é tão linear quanto isso.

le Sommeil, (Paresse et Luxure), 1866, 135 x 200, Musée du Petit Palais, Paris

8 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pelo teu esforço de nos dar a ver aquilo que talvez nem suspeitássemos que existia...

Unknown disse...

Não há esforço nisto, senão não dava gozo. E fico muito satisfeita por saber que não me dá só a mim! :)

Jo-zéi F. disse...

Mas realmente todos foram beber inspiração ao grande Courbet, são detalhes a mais.
Já agora um Abraço!

Unknown disse...

Detalhes a mais? Sim, atendendo a que a máquina fotográfica ainda era um sonho. E no entanto, olha só como ele pintava sem tantos detalhes assim: fascina-me este retrato, que podes ver aqui:

http://latribunedelart.com/Expositions/Expositions_2007/Courbet_Desespere.htm

Unknown disse...

Já vi que não podes ver. Tenho que dividir o endereço

http://latribunedelart.com/Expositions/
Expositions_2007/Courbet_Desespere.htm

Jo-zéi F. disse...

Digo que são detalhes a mais em relação aos outros pintores que vieram posteriormente, foram beber inspiração à bela pintura do Courbet.
A técnica plástica já difere bastante, claro.
A comparação é muito interessante.

Jo-zéi F. disse...

Vi "le désespéré" e...o Homem tinha uma técnica fabulosa. É muito bem esgalhado. E ver a pintura ao vivo...UI!

Unknown disse...

Fazes-me ficar com mais pena ainda de não a ver...