Viajar de carro em companhia é, por vezes, um fardo. Sempre me afligiram as ofertas de boleias; fujo delas a sete pés. Enfrentar por duas ou três horas o flagelo que é manter uma conversação nivelada é para mim doloroso, principalmente se os companheiros de viagem não me são familiares. O espaço fechado, claustrofóbico, os olhares centrados na estrada estática que em nada ajuda a encurtar a viagem...
Ao contrário, viajar de mota tem entre outras, esta vantagem: não é preciso iniciar nem manter nenhuma conversação. Talvez seja a ser até um desporto solitário. Ainda que a conversa exista, como é claro, tende a ser breve. Outra vantagem é a de que permite viajar mais com nós próprios do que com outros, mesmo que acompanhados. Facilita a reflexão, quase diria que proporciona a meditação, não fosse a instabilidade da posição. A sensação de liberdade existe, se bem que ilusória (porque há que redobrar a atenção). Cortar o vento sem tecto nem portas, contactar ao vivo com o espaço, apesar do risco, é delicioso. Mas não são só vantagens: viaja-se em permanente risco de queimar a perna no cano de escape, de esfolar a pele no asfalto; com o tempo, as pernas adormecem, o rabo fica com formigueiro, a pele da cara seca e o cabelo fica que nem palha.
Mas então, imagine-se isto num dia de muito calor. Ou de muito vento. Ou de muito frio. Ou simplesmente num dia ameno mas em que os pólens de oliveira, parietária e gramíneas (os meus maiores inimigos!) se encontram em níveis elevados e se entranham no nariz e fazem espirrar desmedidamente…
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