12 agosto 2008

Insólitos do ócio - II


nsólitos do ócio - II

Quem era frequentador da minha casa sabe quanto o som fazia parte integrante daquele espaço. Por amor à música, mas principalmente à qualidade do som, a sala e grande parte da casa, foram reformuladas em função da localização dos aparelhos (para ser mais precisa, direi apenas que a lareira, considerada por grande parte das pessoas elemento prioritário e de destaque, foi preterida por um amplificador de grande dimensão e potência que vivia com oito colunas de dimensões variadas, estrategicamente colocadas por ali fora). Tudo isto para dizer que, durante anos, convivi de boa vontade e muito gosto, com música, televisão e cinema em permanência, com elevado mas irrepreensível volume; os momentos de silêncio eram raros ou impossíveis.
Desde que me mudei, optei por algum silêncio. Não por imposição, mas por alguma (estranha) necessidade, com a qual tenho convivido muito bem mas que previa em fase terminal, até porque, pela primeira vez, senti necessidade de transportar música comigo e finalmente, aderi ao mp3.
As férias trouxeram-me entretanto, outro banzé: os meus três sobrinhos adolescentes em permanente conversa (permanente, eu disse muito bem)! Acrescento um pormenor, sem o qual nada disto faz sentido: o diálogo ocorre essencialmente em italiano, em particular quando há guerra. Com isto quero dizer que produzem muito, mas muito mais cagaçal do que se falassem em outra qualquer língua. Como se isto não bastasse, os monólogos também são audíveis - verifico que eles produzem som mesmo quando estão sozinhos. Falam, cantam, brincam com as palavras e atitudes, revelam heranças em pequenos gestos.
Para ajudar à festa e em intervalos regulares, um booo booo booo booo booo – código transnacional para namorados que se vingam em sinais de telemóvel.

Pensava que deixei de precisar de silêncio? Retiro o que disse.


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