oluntária por umas horasUm dia destes, experimentei participar numa campanha de recolha de donativos - um banco alimentar, seja. Como é óbvio, não se destina a pessoas, mas animais carenciados.
Para além do bem que convictamente acho que estou a fazer, estar à entrada de um supermercado durante umas horas é uma experiência interessante e um curioso posto de observação. Por ali passam as mais diversas figuras; pessoas estranhas, feias, a maior parte.Encolhidas com frio, enroladas em casacos feios e roupas escuras. Famílias desavindas e outras amorosas. Crianças que berram e outras que param para fazer perguntas com receio duma reprimenda. Pessoas que respondem com um grunhido e outras que desviam o olhar. Outras que cumprimentam e que se interessam.
E há episódios engraçados. Um pai com uma filha pequena; tinham ido comprar um cd e queriam embrulhar para oferecer; paráram à entrada, junto duns gigantescos rolos de papel e fitas em regime de self-service. O desajeitado homem deu tantas voltas à folha, que a muito custo conseguira guilhotinar, que acabou por deixá-la cair umas poucas de vezes; aquele papel tinha para ele o peso duma bigorna. O cd não tinha como encaixar naquele rectângulo; ele virava e voltava a virar. A miúda tentava ajudar mas não tinha mais jeito de que ele. Até que uma funcionária se condoeu e se ofereceu para lhe fazer o embrulho. O homem suspirou agradecendo e lá foi aliviado com o cd amar
Não havia entretanto episódio mais adequado à ocasião: um cão solitário, ensopado, à porta do supermercado, revelando saber que aquilo não é lugar para ele. Ensinado, portanto, mas com o ar mais infeliz do mundo. Olhava para dentro, dava uma voltinha e sentava-se. Um casal idoso abeirou-se e o cão derreteu-se; tiveram pena dele, acharam-no perdido e levaram-no para casa. Algum tempo depois, chega um rapaz de olhos vermelhos lacrimejantes; tinha perdido um cão; contou-se-lhe o episódio mas ninguém sabia quem era o casal que o levara; chamou-se o segurança, trocaram-se contactos. O rapaz resignou-se à sua sorte e à do seu cão. Passam duas horas: o cão de novo à entrada, já não tão molhado. O casal percebeu que o cão teria dono, resolveu voltar atrás e informar-se.
Chamou-se o segurança que chamou o rapaz que chamou o cão. E que pulos de alegria quando se encontram! Se poderia haver dúvidas, estava ali a prova: o cão era dele.
E assim acaba mais um episódio no fim do qual me resta apenas uma consolação: é daqueles que o Zorbas gosta, porque tem um final feliz.
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