edicatória, por assim dizerMaria é o motor de uma família original. Tem um sentido de humor particular, hospitalidade e um coração generoso anormais; tem uma energia infindável e uma tendência particular para acidentes - de pouca monta, mas que não deixam de o ser porque saem fora da normalidade.
Imagine-se uma casa habitada por cinco pessoas e um cão velhote que não faz mais do que derreter a neve que ladeia as árvores com o seu chichi quentinho e encher os caminhos com a terra que esgravata dos canteiros - esse está, portanto, fora de circulação e remetido a uma casota no quintal.
De resto, o movimento é constante - os próprios habitantes ou os amigos que ali acorrem; o cão que se desloca sem sair do mesmo sítio, os carros e as motas a entrar e a sair; a própria casa parece mover-se de vez em quando. É fácil, portanto, perceber que numa casa assim, tudo funcione ao mesmo tempo, o cão, as pessoas, as máquinas. Está bem, pára-se para dormir, mas não por muito tempo.
Se eu própria tenho sido severa e bastas vezes criticada porque o faço frequentemente (o que no ponto de vista de algumas pessoas é um erro crasso que impede que se faça seja o que for bem feito), Maria exagera no que toca a fazer diversas coisas ao mesmo tempo. Digo em abono da verdade, que não conheço mais ninguém com tamanha capacidade e velocidade, só que, neste caso, os acidentes multiplicam-se. Deixar três panelas ao lume ao mesmo tempo, enquanto ao mesmo tempo mete uma máquina de roupa a lavar, outra a secar e outra a lavar a loiça com onde se há-de comer o almoço que acabou de sair do frigorífico, conduz fatalmente ao esturricanço do próprio almoço que entretanto ficou esquecido. Tamanha sobrecarga leva frequentemente ao colapso do quadro eléctrico, dotado duma potencia anormal já para prevenir estes acidentes, mas que nunca é suficiente. As máquinas tem todas a mesma particularidade: são todas de má qualidade, por muito dinheiro que custem. Os talheres ou os pratos são todos diferentes, não porque Maria queira seguir a moda na mesa, mas simplesmente porque os conjunto duram pouco tempo. Por artes mágicas, sem explicação, partem-se. Porque não são lá grande coisa. Os tachos perdem as asas e os testos e acontece esta coisa única: as panelas partem-se. Tudo porque também não valem nada. Obviamente,na casa da Maria, nada morre de velhice nem de morte natural.
Como se não bastasse o trabalho de manter organizada uma casa concebida em altura, cheia de escadas e recantos, Maria dedica-se ao voluntariado na pequena povoação onde vive. Isso faz dela uma pessoa encantadora para muitos mas solicitada por todos; está claro que isso leva a exageros no que toca a pedidos de colaboração aqui e ali. A maior parte das pessoas não sabe enxergar os limite do seu abuso.
Maria vive, portanto, sempre, no limite da velocidade quer ande a pé quer de carro, que não é poupado ao trabalho - é ele quem sofre as consequências no atraso do portão cuja abertura automática é lenta demais para tamanha pressa e a sua capacidade é sempre pequena para tanta coisa que se ser transportar.
É difícil uma pessoa dar-se com uma pessoa assim? Não, não é, desde que se entre na onda. Tal como quando saltávamos à corda a pares: tem que se entrar na altura certa para evitar tropeçar.
Se alguém, ao ler estas linhas pensar "quem és tu para falar desta", devo dizer desde já: qualquer semelhança entre nós é pura coincidência. Eu sou uma aprendiz.
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