bisnaga janota

gato atrevido

Hoje foi dia de uma visita inoportuna. Tinha à minha espera um gato preto, de grandes e bonitos olhos amarelos, preso entre a janela fechada e a grade. O bichano miava apavorado, porque o único sítio para onde lhe dava jeito saltar era onde se passeava um ameaçador cão, que fazia a ronda após o almoço. O gato olhava para um e outro lado, enchendo-se de coragem; quando finalmente se esticava para saltar, o rabo ia subindo pela janela acima; o rabo e toda a traseira, até ficar na vertical. Desistia sucessivamente, voltando à forma inicial; olhava para dentro, pedindo ajuda e miava...
Não tenho especial predilecção por gatos. Gosto muito deles quando são pequeninos mas a graciosidade e a promessa de meiguices parecem desaparecer conforme crescem.
O gato era jovem e eu não podia deixá-lo ali. Calcei as luvas, muni-me de uma malga com comida de cão e abri a janela aos poucos. O gato foi cheirando e a medo foi-se esgueirando para dentro. Aos poucos, conduzi-o para o quintal, onde já estava a projectar um cantinho para o resguardar da fera Lolita :) . Água, comida e uma mantinha, até encontrar o dono, pensei. Até encontrar dono...escrevinhei uma mensagem e meti-a na porta do andar de cima, onde sei que habitam gatos. E resultou: não tardou muito que a vizinha acudisse e buscar a Safira, assim se chamava a felina a quem nem consegui identificar o sexo.
A senhora, como disse, entrou para buscá-la; estremeci... não sabia como cheirava (a senhora), mas afinal pareceu-me lavadinha. Diz-se que é uma recolectora, que guarda tudo quanto apanha, seja de que espécie for, que colecciona gatos que chegam à conta de vinte. Isto tudo e dois cães esgrouviados que me pregam grandes sustos. Dizem que tem os dias contados por aqui, que a vão pôr a andar por fazer má vizinhança. A mim não me incomoda, desde que não atire os gatos para a minha janela...