10 janeiro 2009

raída pelo coração - parte II

Cada vez mais ao estilo Corin Tellado, esta novela ainda tem muitos episódios pela frente, mas temo que não me seja dado ver todos, pelo menos dentro do meu tempo útil de vida. Haverá outro tempo, quiçá longo, de tempo de vida inútil que será quando já não tiver coragem para contar histórias, nem destas nem de outras.

Nem o menino Jesus nem o ano novo trouxeram a Sissi a calmaria de que tanto precisava para dar asas à sua paixão. Já mais marreca por efeito da inclinação que mantém pelo rapaz, aguardou a presença da G e secretamente rezava para que o primeiro encontro corresse bem. Estudou-o minuciosamente, inventou cenários e no dia marcado, ele apareceu como que por acaso. E o pior aconteceu. Um porta-chaves?, dizia G., para que serve um bailarino desses?

Sissi sentiu as pernas dobrarem-se sem querer, um nó subiu-lhe pela barriga mas conteve-se. Despediu-se com vontade de o abraçar e continuou com G, tentando manter-se indiferente. É feio, não tem uma profissão capaz..."Não, não terás o meu apoio. Se quiseres manter isso, o problema é teu, mas mantêm-o distância quando eu cá estiver. Para já, dedica-te ao estudo, que é para isso que cá andas". Viver a vida sem amor, de que serve? pergunta-se Sissi. Estudar para ter boas notas, aturar as fantasias da mãe, dar banho à avó, passear o cão que morde à tia. De que vale tudo isso? Obrigações, contrariedades, problemas, responsabilidades. É ao pé dele que é princesa, é ele que a compreende e que lhe dá apoio. E ainda por cima ele gosta do cão. Ela não sabe, mas foi o inocente cão que deu as mais comprometedoras pistas daquele namoro, coitado; o abanar alegre da cauda ao ver o rapaz aproximar-se de carro foi fatal. Agora Sissi chora amiúde, alegando uma constipação em que muitos acreditam porque está frio. Não é só porque o mundo está contra ela, é porque tem saudades do pouco tempo em que foi feliz, mas mais mais is porque ele não pode saber porque é que ela anda triste. E por aqui me fico, que estou quase a chorar.

1 comentário:

Anónimo disse...

É da constipação, que eu bem vi!