
À hora certa, nobentes e madrinhas, que nunca se tinham antes encontrado, compareceram na conservatória.
Kalinka tem olhos azuis, fujidios, sobrolho franzido, olhar desconfiado; os lábios grossos ao estilo Jolie, sempre mordidos a deixar transparecer nervosismo.
Vinham de mão dada, ele com os seu habitual ar esgazeado, carregando malas - um portátil e um instrumento de sopro que não chegou a tocar...
Aguardámos uma interprete que chegou atrasada mas altamente arreada como se fosse para uma festa de fim de ano em Mem Martins. A sua roupagem contrastava gritantemente com as roupas discretas de Kalinka, embora falassem a mesma lingua, aproximadamente.
Subimos ao quinto piso onde éramos esperados por uma conservadora com sotaque acentuadamente nortenho. Fomos entrevistados um a um à excepção da nubente, que teve que se socorrer da vítima Lana o que se verificou ser um desastre pois não terá percebido metade do que a conservadora lhe dizia.
O nervosismo do noivo era evidente; circulava em diagonais na sala de espera, de mãos nos bolsos das calças justas. Preocupava-o não ter combinado com a noiva a data em que se terão conhecido... Um? Dois anos? O que irá ela dizer? Porquê tanto tempo?
Quando Lana assomou à porta de vidro, era evidente a sua preocupação; sacudia-se, abanava os cabelos compridos cor de champanhe rosé; retocou o baton, passava a mão a compôr o rimel.
Apressou as despedidas porque desconfiava que tinha deixado ligado o ferro de frisar o cabelo, tinha que correr para casa. Estava indignada com a falta de informação: tinha demorado tanto tempo a arranjar-se para uma cerimónia e afinal tratava-se apenas dos preliminares que a antecedem o grande dia...
Nosferatu foi convocado para a conferência, Lana saiu e ficámos as três: eu, Mada e a noiva que não percebia patavina do que dizíamos e se socorria de um dicionário amarelecido e gasto para explicar qualquer coisa que não chegámos a perceber. A única comunicação estabelia-se entre as madrinhas, nós sim, falávamos a mesma linguagem corporal...
A minha entrevista foi facilitada pela anterior. Mada tinha contado o essencial: que se conheceram há dois anos, que estavam nitidamente apaixonados, que ele não pensa noutra coisa, que só quer o bem dela, que a enche de presentes, que se preocupa com a sua saúde, com a sua família...
O casamento será na próxima segunda-feira, dia dos namorados e abençoado por um camarada kupidov.
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