15 março 2011

ada mais?


Discutia ontem com uma amiga as diferenças entre nós duas, que tantas semelhanças temos em termos de interesses, hábitos e métodos de trabalho, com os dos nossos alunos, que nos são diametralmente opostos. O meu vizinho, que queria experimentar a diferença entre diversos amarelos, ficou surpreendido com a minha panóplia de pincéis, desandadores, tintas e outro material de bricolage. Nunca fui grande aluna a Educação Tecnológica mas sou curiosa e cresci a meter o nariz em tudo o que é drogaria, loja de material de construção e de um modo geral, tudo o que fosse casa de venda a retalho. Distingo tecidos, madeiras, tintas. Construo com alguma facilidade, isto é, saio, com poucas hesitações, do plano do projecto. Não é vaidade, é uma constatação.
Deparo-me este ano com um problema: os meus alunos não percebem o que digo com o termo "fazer". Ficam-se pelas ideias que têm dificuldade em registar e mesmo assim, não conseguem expressá-las com clareza. Numa turma com 28 alunos, há dois que me percebem de imediato - os outros patinam num terreno que nada tem de escorregadio mas que para eles será pantanoso. São pessoas que saem para ver uma exposição às segundas-feiras, dia em que os museus encerram e o pior é que não voltam lá... Levei-os a visitar duas mostras de arte, convencida de que iriam surtir efeitos imediatos - nada aconteceu.
O seu actual de trabalho é escolher uma pintura, fazer um pequeno trabalho escrito de investigação sobre a obra e o autor e passá-la para a tridimensionalidade. Já contava com dificuldades ao nível dos materiais, mas nunca pensei que o caso revelasse lacunas mais graves: porque é que grande parte dos alunos optaram pelo surrealismo russo? Não sei.
Um deles trouxe-me uma folha impressa com quatro opções para eu o ajudar a escolher; dizia que gosta muito de Dali - fiquei boquiaberta.
Abaixo de uma pintura, ele escreveu "René", abaixo de outras, escreveu "Dali". René seria Margitte, tratado pelo primeiro nome; sobre os quadros de Dali, dizia ter preferência por este:
Não percebeu que se trata de uma fotografia e nem sequer que é apenas um "craziest gadget"!

Sentámo-nos em frente ao Google e pedi-lhe para proceder à pesquisa tal como tinha feito antes. No motor de busca escreveu: "pinturas famosas"...
É esta geração que já cresceu supervisionado pela internet, que chega ao 11º ano sem a mínima noção dos riscos que acarreta googlar indiscriminadamente. Não têm os filtros que a cultura proporciona, não têm história da arte, não vêm, não conhecem, não nada, em suma.

1 comentário:

Abelha Maia disse...

coitadas das criancinhas...pq és tão esquisita???qq caveirinha c 1 cobrinha devia servir...mania d artista :))