18 março 2011

ma questão de nervos

Depois de um dia na escola no meio de jovens, fica-se tão habituada a ouvir palavrões, que já quase os ignoramos. Ou então, à mínima contrariedade, fazemos como eles, e sentimo-nos aliviados. É essa a função do palavrão: aliviar a tensão.
Há pessoas que nunca dizem asneiras. Nunca ouvi o meu dizer alguma, já a minha avó tinha acesos de riso quando dizia uma ou outra - eram ocasiões especiais.
A minha mãe é uma dessas pessoas que, aconteça o que acontecer, nunca diz uma palavra menos correcta.
Ontem, ao regressarmos a casa, íamos chocando de frente com um clio branco. Dois rastas entraram num cruzamento em alta velocidade, fora de mão. Valeu-me ir devagar, travar a tempo. Não reagi, ou melhor, reagi passivamente. A minha mãe reagiu impulsivamente, numa atitude surpreendente, saiu do carro vociferando, chamando-os estúpidos e parvos, o modo máximo como consegue insultar alguém. A minha calma acalmou-a e voltou para o carro surpreendida porque não tinha havido o estrondo previsto. Disse-me que não a devia ter segurado, que devia tê-la deixado soltar a raiva que guarda há meses. Para uma pessoa que não chora nem diz palavrões, aquele deve ter sido um momento irrepetível, uma oportunidade perdida.
Naquele momento vi o meu carro desfeito e encolhi as pernas... Não consegui reagir, não consegui sequer falar durante um bocado e no entanto fiquei com pena deles pelo susto que eles terão apanhado. Já há quase um ano senti o mesmo. Devo aprender o vocabulário dos jovens? Assentar uns sopapos nos meus agressores? Mandar mesas pelo ar?

1 comentário:

josépacheco disse...

de há uns anos a esta parte, aderi completamente à arte do palavrão. não só alivia a tensão, como permite a descoberta do português mais antigo e mais popular, como é um bem que se faz à língua-mátria, evitando que ela perca palavras fundamentais e se torne demasiado bem comportada. **?((//~~^!"@£ para esta $§8))((] de vida!!!