23 julho 2011

saco

Num pequeno supermercado fui abordada por uma senhora de porte gigante que estava encostada ao balcão numa acesa conversa com o dono do estabelecimento.
-Esta menina é que me vai ajudar. Ó jóia para onde vai?
-Vou para cima
-É para aí que eu vou.
-Não é bem para cima, vou cortar já à esquerda.
-Em direcção Casa Amarela? É para lá que eu vou. A menina ia andando e leva-me este saco que eu já lá vou ter.
-Mas olhe que eu tenho pressa. E o que faço ao saco?
-E pensa que eu ando devagar? Tenho duas muletas mas ando ligeirinha.
Saí acelerada, de facto. A mulher seguia-me numa figura tão ridícula que quase fazia pena. Um chapéu azul de abas largas a condizer com uma meia de dormir, de crochet, a aconchegar o único pé; um cordão de ouro do qual pendia uma libra grande e reluzente. Parava para se desviar dos carros porque a rua era estreita e o espaço de que precisava era tão largo quanto o dos carros.
-Vá andando, vá andando que eu lá vou ter, gritava-me numa entoação impossível de escrever.
Se está com pressa deixe isso na paragem do autocarro,que deve estar a passar. Depois alguém me há-de ajudar por o saco lá dentro.

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