22 agosto 2014

air de casa

 
Ao contrário do que é comum sentir-se, viajar nem sempre é bom. Conhecer novas paisagens, interessa-me e fico-me por aí. Novas pessoas, nem por isso. Novos costumes, dispenso. É contraditória esta vivência, partindo de mim que gosto de desafios, inovações e reviravoltas.
Existe nesse andar pelo mundo qualquer coisa de assustador que me impede de usufruir em paz.
Existem culturas que me assustam e que risco do meu mapa geográfico. 
Se fosse possível viajar selecionando enquadramentos, a vida seria mais fácil. Viajar com um motor de busca incorporado que me permitisse escolher um menu de aspectos a eliminar com o olhar.
Que bom seria correr o mundo...

Sair de casa para uma curta viagem e percorrer caminho nalgumas estradas que nos levam para fora da famosa "zona de conforto" é uma viagem-lotaria. Se não se acerta, a viagem pode ser uma experiência dramática.
O primeiro cruzamento nefasto é com um animal espalmado no asfalto. Acontece em qualquer rua de bairro.
Um animal vivo que corre na beira da estrada no alcance frustrado de um carro que acelera. Ou aquele que se desloca vagarosamente, conformado com o destino a que foi votado e cujo olhar suplicante mexe com a profundeza do meu ser.
Seguem-se os dísticos que sinalizam tristes passageiros: "transporte de animais vivos", predestinados a uma morte, talvez em horas. Os transportes de animais destinados ao abate - porcos, vacas, galinhas. Triste, triste, triste.
Camionetas que regressam vazias, transportando com elas o peso do contributo para tamanha selvajaria.
Houve tempos em que isso me era indiferente
Hoje, a realidade à qual não posso fugir, mudou tudo, incluindo o modo como vejo a estrada.

Reentramos na cidade. Anunciam-se os melhores leitões do sítio.
Infanticído.
Talhos apregoam redução de preços em borreguinho e cabrito.
Transacionam-se vidas.
Vende-se a morte, ganha-se dinheiro com isso.
Pode-se gostar viajar deste mundo?

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