15 novembro 2014

eflexão





Pela primeira vez na sua vida as suas janelas davam, ainda que vagamente, para as janelas da casa de alguém. Tinha dificuldade em lidar com isso. Um ano após, esta descoberta intrigava-a uma determinada casa em frente.
- Já reparaste naqueles cortinados? Todos manchados...
- Aquilo não são manchas. São até bem bonitos, com cornucópias e pavões.
- Tens a certeza? A mim parecem-me uns desenhos quaisquer.
- Além do mais são branquinhas e novas.
Estranhava o morador. Um homem de meia idade a quem a mulher tinha abandonado. Estranhava vê-lo apanhar a roupa. Era um acto rotineiro que só aprovava em teoria e na vida do neto, pois o rapaz tinha de se desenrascar sozinho, fazer pela vida.
Mas o que mais a intrigou foi ele ter um candeeiro de mesa igual ao dela.
Ao crepúsculo, sensivelmente à hora que o acendia, ele lá estava, luminoso, elegante, E achava-o bonito, ali ao longe.
Um dia, olhou melhor. E viu-se projetada num espelho bem lá ao fundo, que projectava a imagem do seu próprio espelho, que por sua vez refletia o candeeiro. E ela quando passava.


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