01 agosto 2013

e pode-se exterminá-los?

Nunca fui racista. Sempre protestei contra todas as formas de sectarismo até aos dias em que descobri o modo como os ciganos tratam os animais.
A falta de respeito que nutrem por eles é da ordem da crueldade.
Inibo-me de relatar as situações que conheço. Basta sabê-las eu (devo poupar os outros a tal sofrimento).

Tive o privilégio, digamos assim, de conviver de perto com alguns acampamentos, nos arredores de uma cidade, prestando auxílio a pessoas que dedicam várias das suas manhãs a alimentar os cães que os ciganos mantêm em cativeiro.
Os locais preferidos para montar as casas (casas?) ficam junto a fontanários e à beira de estradas.
Invariavelmente, o cenário é dantesco.
De dentro da aberturas que fazem as vezes de janelas vem uma música roufenha. Parecem dormir até tarde, todos eles.
Entre lixos de toda a categoria vivem crianças e animais. Ao ruído do carro, mulheres desdentadas assomam às portas. Grunhem um bom dia com as suas bocas desdentadas. Aceitam a nossa presença porque lhes vamos fazer um favor, mas mantêm-se desconfiadas. As crianças rodeiam-nos, querem saber ao que vimos e o que temos no carro.
Os homens, anafados, e de bigode, nada fazem senão entrar e sair nas suas Fords. Têm grandes barrigas e farto bigode. Não era dia de feira, por isso as famílias estavam nas casas.
Alguns têm cavalos. Alguns caçam. Para isso contam com a ajuda de alguns pequenos podengos que vivem (vivem?) atados a árvores.
Alguns cães têm a sorte de andar em liberdade e são nitidamente felizes, embora sujeitos a todos os perigos e frequentemente atropelados. Não sabem que têm fome e que se não têm pulgas nem doenças o devem a estes esforçados voluntários.
De quando em vez, um latir. É um cão atingido por um projéctil disparado da mão de algum garoto para o enxotar ou divertir-se. Os cães de raça (ao que sei, roubados) estão acorrentados e em locais escondidos. Ao sol, ao frio, à chuva, sem água e com mais moscas que comida, que só voltará daí a três dias.
Há que encher de água todos os reservatórios - nem crianças nem adultos parecem perceber que qualquer ser vivo precisa disso para sobreviver.
Uma capoeira. Dentro, duas galinhas quase depenadas e um pavão... acorrentado, sem água nem comida. Chamado a resolver o problema com palavras calculadas, o pai da casa diz que não tem dinheiro para fazer melhor. Aproveita para pedir. Pedir, foi o que todos fizeram, como se precisassem, como se as carências que são evidentes carecessem de dinheiro para ser supridas. Vassouras, brio, vergonha - não encontrei em nenhum dos sítios onde fui.
Não tendo emprego, esta gente vive com o RSI, com o que mantém a sua própria lixeira bem cuidada e pouco viçosa. Se ao menos a regassem... 

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