07 setembro 2008

os novos vizinhos

s novos vizinhos

Não há muito tempo desde que escrevi um textinho dedicado aos meus vizinhos. Também não há muito tempo que os abandonei. A mudança foi longa e difícil, como o são a grande parte das mudanças. Procura-se um rumo novo e criam-se expectativas ao mesmo tempo que se quebram os laços que levamos anos a construir. O resultado é estranho a diversos níveis; já não tenho a quem gritar bom dia! da janela, já não tenho quem me olhe pelas plantas, mas isso é precisamente porque não tenho sequer um vasinho...
A relação próxima e de alguma dependência que tinha com a A., provoca um diálogo soluçante quando me telefona para saber como estou e para desabafar sobre a sua cansativa reforma rica em compromissos com os netos. Lágrimas que lhe enchiam os olhos de cada vez que estava satisfeita e me agradecia por aquilo que considerava uma ajuda preciosa (minudências!) sem a qual nunca poderia passar. Passa, passa.

Foram lágrimas, de novo, que me fizeram hoje aproximar dos novos vizinhos. Ao fim da tarde, quando começava o bacalhau à zé do pipo para o jantar, ouvi chorar convulsivamente; o choro crescia, uma senhora gritava e dizia qualquer coisa que eu não percebia. Percebi ao fim de algum tempo, que o choro vinha de cima, provavelmente da senhora do segundo andar. Tracei o pior cenário: imaginei o marido prostrado, vitimado por qualquer coisa súbita e que estariam os dois sozinhos. Abri a minha porta e avancei para o hallzinho da entrada perceber melhor o que se passava quando sou surpreendida pelo próprio marido que vinha da rua...
- Assustei-a?
- Não! (que ideia!, já o imaginava estendido no chão...)
- Ah, sabe, este choro... é a minha mulher... deram-lhe a notícia da morte da melhor amiga... foi de repente... ela não está a aguentar... faz muito barulho, incomoda os vizinhos todos... Mas suba, venha fazer-lhe um pouco de companhia... suba que ela vai ficar contente...
Não queria acreditar, hesitei mas não tinha fuga, o senhor empurrava-me com os seus modos delicados e lá fui eu oferecer os meus préstimos e afundar-me onde não queria. A senhora agarrou-se a mim, com os olhos inchados de tanto chorar. E eu balbuciava uns disparates de tal ordem que o marido resolveu informar-me de que são evangélicos. Eu sei lá o que isso é na prática...
- Vês, Tété, anima-te. Vai-se uma amiga, ganha-se outra...

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